quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Será que não sei ser mãe?

Será que não sei ser mãe?
Agora, essa pergunta fica rodando dentro da minha cabeça e começo a ficar enlouquecida com a tontura que me causa.
Numa dessas conversas periodicamente semanais que tenho com meu pai, contei um fato acontecido no dia anterior. Toda empolgada, descrevi como fora a noite de trabalho.
Tiros na frente do colégio... A sirene do carro policial soava na rua. Parecia imitação, daquelas buzinas engraçadas que o povo instala por aí. Mas foi por causa da freada que a ficha caiu. Era real. Uma perseguição, bem pertinho.
Os fugitivos, de moto, quase bateram no carro de um professor que estava saindo como de costume, após uma noite cansativa, rumo ao confortável aconchego do lar, e estacionaram ali, dentro do pátio, no meio de outros carros.
Armados, os "defensores" da lei deixam os assentos do veículo e correm. Ordenam que os meliantes encostem na parede com as mãos pra cima. Tapas na nuca, chutes nas canelas. Revistados, todos. Dos dois, um sai algemado.
Os curiosos juntaram-se mais que depressa pra tentar reconhecer alguém ou questionar o que estava acontecendo...
O que aconteceu? Só eles sabem, porque explicação alguma foi dada. Os infratores, menores, foram reconhecidos: alunos daquele turno, gazeando aula.
De repente, percebo o olhar vermelho, turvado pelas lágrimas que meu pai segurou pra não escorrer. Cheguei a imaginar seus pensamentos... "Ela acha isso emocionante? Meu Deus, quanto perigo..." Talvez não tenha pensado com essas palavras, mas nesse sentido, com toda certeza. Restou dizer apenas para eu tomar cuidado na rua.
Isso me levou a pensar nos medos e preocupações que tenho, ou não, em relação ao meu filho.
Não me assusta a idéia dele cair e se machucar. Não me importa até que idade vai viver.
Mas me incomoda o quanto ele vai ser parecido com o pai ou com a mãe, seus medos e seus sonhos. Me aflige a sensação de ser responsável pelas suas atitudes e pensamentos desde a sua formação no útero até seu último suspiro. Me angustia as incertezas do hoje e do amanhã. Se estou fazendo certo ou errado.
Porque, as desgraças, os machucados e cicatrizes são possíveis e, alguns, inevitáveis. Mas os aprendizados e realizações não contam?
Tantas indagações e exemplos... Ainda me resta a pergunta: será que não sei ser mãe?

3 comentários:

Anônimo disse...

adorei
bjs

Anônimo disse...

oiee Marcinha, seua mãe me repassou o seu link e estou aqui fazendo uma visitinha...desejos de um excelente domingo
beijinss
kika

http://extrasbykika.zip.net

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira. disse...

Oi Marcinha!
Ser mãe e ser professora em nosso país nesta época é conviver com a violência e procurar fazer o melhor possível diante das possibilidades e dificuldades que se apresentam. A violência cotidiana é tão banal que não apresenta um limite bem claro entre a sala de aula e a rua, entre o aluno e o meliante, entre a criança inocente e o bandido assassino e cruel.
Gostei muito de seu txt, bem atual.
Agora, quanto a ser mãe (ou pai) no meu entender, devemos, sim, nos esforçar sinceramente para fazer nosso melhor, basta isso! O mais será resolvido ao seu tempo por outras forças maiores do que nós.
Abraços e parabéns pelo txt
Silvério.